31.3.15

Bissau: Está a começar uma nova era

Dezasseis anos depois da retirada dos últimos soldados senegaleses da Guiné-Bissau, aquando da guerra civil entre o Presidente João Bernardo Vieira e o brigadeiro Ansumane Mané, o Governo do país, a União Europeia e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reuniram-se a semana passada em Bruxelas, a fim de darem mais algum alento aos guineenses. Macky Sall, Presidente do Senegal, país que na guerra civil de 1998/1999 tomou partido por "Nino" Vieira, fez questão de participar, de modo a demonstrar que nada se poderá fazer na Guiné-Bissau à revelia de Dacar. O que todos pretenderam ali dizer foi que as eleições de há um ano deverão ficar como o início de uma nova era, sem novos assassínios de altos funcionários nem grupos de militares a contestarem as autoridades civis. Os participantes na mesa redonda de Bruxelas desejam que o Presidente José Mário Vaz e o primeiro-ministro Domingos Simôes Pereira levem até ao fim os seus mandatos, sem que haja mais necessidade de recorrer a tropas estrangeiras para resolver assuntos internos; sejam essas tropas do Senegal, da República da Guiné ou de Angola. O que toda a gente sabe, porém, é que nenhuns relativos progressos alcançados em 10 meses poderão perpetuar-se se por acaso não houver reformas profundas nos sectores da segurança, da justiça, da administração pública e das finanças. Ninguém ainda conseguiu garantir que a Guiné-Bissau deixe de ser conhecida como uma terra de impunidade e de corrupção, por onde passam tráficos múltiplos, triste imagem que infelizmente ainda irá demorar mais algum tempo a desaparecer. Existe um Plano Estratégico e Operacional para o período até 2010; e só se ele for cumprido o mais escrupulosamente possível é que a Guiné-Bissau deixará de ser um Estado extremamente frágil, onde muitas vezes as pessoas nem sequer têm água corrente nem electricidade durante as 24 horas do dia. Há que diversificar a Agricultura, que aproveitar o potencial das Pescas e que explorar muito bem o subsolo, pois que existem indícios de lá haver ouro e outros recursos minerais, como a bauxite, de que há tantos anos se fala. Um desafio que os guineenses têm estado a enfrentar muito bem é o do Ébola, que tantos mortos causou na Libéria, na Serra Leoa e na República da Guiné. Mas ainda terão de se esforçar muito mais para terem bons hospitais e centros de saúde. A promessa que lhes fizeram em Bruxelas foi a de que poderão contar com mais de mil milhões de euros para concretizar os seus objectivos para os próximos cinco anos, restando agora ver se tão generosa promessa irá ser integralmente levada à prática, o que nem sempre acontece. Da parte de Portugal, a melhor oferta seria, no meu entender, um gigantesco esforço para que bem mais de metade da população da Guiné-Bissau conseguisse efectivamente expressar-se em português, lendo e escrevendo a língua que é comum a estes dois povos e, ainda, ao Brasil, a Cabo Verde, a São Tomé e Príncipe, a Angola, a Moçambique e a uma pequena parte de Timor-Leste. Enquanto, na prática, só muito menos de metade dos cidadãos guineenses for capaz de dominar o português, seu idioma oficial, não haverá verdadeira unidade nacional, nem plena integração na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mas sim uma federação de balantas, fulas, mandingas, manjacos, papéis, beafadas e outros povos. 31 de Março de 2015

Nigéria: Buhari apresenta vantagem

The Presidential and National Assembly elections in Nigeria were held on March 28, 2015 (Saturday). Total votes of 18 states (Ondo, Osun, Kogi, Enugu, Ogun, Ekiti, Oyo, Nassarawa, Kano, Jigawa, Katsina, Kwara, Kaduna, Anambra, Abia, Akwa Ibom, Imo, Plateau) and FCT Abuja: Real results for election 2015 (escrutínio ainda em curso em parte do país) Goodluck Jonathan / Namadi Sambo (41.56%, 6,488,210) Muhammadu Buhari / Yemi Osinbajo (54.58%, 8,520,436) Ambrose Albert / Haruna Shaba (0.02%, 3,711) Oluremi Sonaiya / Saidu Bobboi (0.03%, 5,268) Ganiyu Galadima / Ojengbede Farida (0.16%, 24,238) Chekwas Okorie / Bello Umar (0.07%, 10,808) Tunde Anifowoshe-Kelani / Paul Ishaka Ofomile (0.09%, 13,734) Rafiu Salau / Clinton Cliff Akuchie (0.13%, 20,478) Godson Okoye / Haruna Adamu (0.04%, 5,810) Martin Onovo / Ibrahim Mohammed (0.08%, 12,768) Mani Ibrahim Ahmad / Obianuju Murphy-Uzohue (0.11%, 16,733) Ayeni Adebayo / Anthony Ologbosere (0.19%, 29,867) Sam Eke / Hassana Hassan (0.14%, 21,227) Allagoa Chinedu / Arabamhen Mary (0.10%, 14,940) Invalid votes (2.70%, 422,164)

30.3.15

Nigéria: "O incorrigível gigante africano"

Not for Wole Soyinka, Nigeria’s foremost man of letters, a gentle retirement or attempt to separate art from politics. The 80-year-old spent election day in Africa’s biggest democracy working the phones late into the night, gathering reports of technical glitches, irregularities and violence. There was plenty to keep him awake. “We’re talking about a very positive response by the public in terms of determination to register and vote but, you know, this has been one of the most vicious, unprincipled, vulgar and violent election exercises I have ever witnessed,” Soyinka reflected sadly. “I just hope we won’t go down as being the incorrigible giant of Africa.” A Nobel laureate and former political prisoner, Soyinka could be described as the conscience of the nation. In an interview with the Guardian in the commercial capital, Lagos, on Sunday he railed against what is thought to have been the most expensive election in African history, revealed intriguing details of a recent meeting with president Goodluck Jonathan (“He jumped up as if his seat was on fire”) and warned a “very sinister force” could exploit disputed results to mount something approaching a coup. Jonathan is fighting for his political life against opposition candidate Muhammadu Buhari in the most hotly contested poll in Nigerian history. Voting spilled over into a second day after widespread technical hitches on Saturday that saw Jonathan himself initially denied registration. Tall and thin with a shock of white hair and Socratic beard, Soyinka said: “The stakes appear to be so high that all scruples have been set aside and it’s very distressing to compare this election with the election of 1993, which was one of the most orderly, civilised and resolute elections we ever had. This one was like a no-holds-barred kind of election, especially, frankly, from the incumbency side. One shouldn’t be too surprised anyway given the kind of people who are manning the barricades for the incumbent candidate.” Countless millions of dollars have been lavished on the election campaigns, with commercials dominating television and newspapers for the three months. Jonathan’s Peoples Democratic Party (PDP) produced a so-called documentary savaging Buhari’s character and last week paid for a 36-page advertising supplement in leading newspapers. Cities have been coated in placards and posters on a breathtaking scale. Incumbent president Goodluck Jonathan, right, is registered to vote in Otuoke, his home town, on Saturday. Photograph: /Xinhua/Landov/Barcroft Media “Most expensive, most prodigal, wasteful, senseless, I mean really insensitive in terms of what people live on in this country,” Soyinka continued. “This was the real naira-dollar extravaganza, spent on just subverting, shall we say, the natural choices of people. Just money instead of argument, instead of position statements. “And of course the sponsoring of violence in various places, in addition to this festive atmosphere in which every corner, every pillar, every electric pole is adorned with one candidate or the other, many of them in poses which remind one of Nollywood. BBC

27.3.15

O espaço vital alemão, em África

(...) Face ao crescente interesse das potências europeias pela África, ao final do século XIX, tornou-se claro que Portugal deveria também definir uma nova política africana já que a crescente presença inglesa, francesa e alemã naquele continente ameaçava a tradicional hegemonia portuguesa nas zonas costeiras de Angola e Moçambique. Apesar do seu reduzido peso político internacional, Portugal mantinha grandes esperanças nos seus territórios ultramarinos, tanto mais que a independência do Brasil, em 1822, privara o País da sua mais importante colónia, obrigando-o a olhar com renovado interesse para as suas possessões africanas, onde, à semelhança do resto do continente, apenas o litoral era efetivamente ocupado. Tornou-se claro que Portugal deveria também definir uma nova política africana já que as crescentes presenças inglesa, francesa e alemã, naquele continente, ameaçavam a tradicional hegemonia portuguesa nas zonas costeiras de Angola e Moçambique. Com base no chamado «direito histórico», alicerçado na primazia da “ocupação de terras”, Portugal reclamava vastas áreas do continente africano, embora, de facto, apenas dominasse feitorias costeiras e pequeníssimos territórios ao redor destas. A partir da década de 1870, ficou claro que apenas o «direito histórico» não seria suficiente e que a presença portuguesa dependia do alargamento territorial para o interior e do correspondente controlo das possessões reclamadas. Para tal, começaram a ser organizados planos destinados a promover a exploração do interior da África. Em 1877, foi lançado um conjunto de iniciativas exploratórias, destinadas a conhecer os territórios compreendidos entre Angola e Moçambique, que levaram às famosas expedições de Serpa Pinto e de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens. O primeiro fez, entre 1877 e 1879, a ligação entre Benguela (Angola) e Durban (África do Sul). Os segundos partiram de Moçâmedes (Angola), em 1884, e atingiram Quelimane (Moçambique), cerca de um ano depois. Posteriormente, foram enviadas algumas expedições militares, entre 1885 e 1890, a fim de reclamar esses territórios à luz do princípio da «ocupação efetiva do território». O Ministro dos Negócios Estrangeiros, José Vicente Barbosa du Bocage, personalidade muito ligada à Sociedade de Geografia, desejava efetivar o projeto do «mapa-cor-de-rosa», o “velho” sonho de ligar Angola a Moçambique, com a consciência de que esse plano interferia com os interesses britânicos na África Central, designadamente, com o projeto inglês, liderado por Cecil Rhodes, da construção de uma linha de caminho-de-ferro, ligando a Cidade do Cabo ao Cairo, estendendo a influência britânica, através da Bechuanalândia (atual Botswana), dos territórios da Matabelândia e da Mashonalândia (no Zimbabwé) e do Barotze (Zâmbia), até à região dos Grandes Lagos. Para a execução do seu plano, oposto ao plano realista da década de 1870, Barbosa du Bocage iniciou negociações com a França e a Alemanha, em 1886, que vieram a ser concluídas pelo seu sucessor, Henrique de Barros Gomes. Em resposta ao «mapa cor-de-rosa», a Inglaterra surpreendeu com o «Ultimato», de 11 de janeiro de 1890, exigindo a retirada das forças portuguesas desses territórios. A ação do Kaiser no período pós-Bismark Quando a Alemanha, em 1898, ouviu o Kaiser proferir a famosa frase “o futuro da Alemanha está sobre a água”, percebeu o anúncio de uma nova política externa (Weltpolitik), apoiada no desenvolvimento das marinhas de guerra e mercante, que dava a Berlim capacidades para intervir em questões internacionais, com possibilidade de obter compensações coloniais. No mesmo ano, o parlamento alemão aprovou a Primeira Lei Naval que deu início à construção acelerada de uma marinha de guerra que contribuiu para desencadear uma rivalidade naval com a Grã-Bretanha. O criador da marinha alemã de alto mar, almirante Alfred von Tirpitz, dizia, ao discursar no parlamento: “Os interesses marítimos da Alemanha cresceram de uma forma completamente inesperada desde a fundação do Império. A sua defesa tornou-se, para a Alemanha, numa questão de sobrevivência. Se se interferir ou prejudicar esses interesses marítimos, o país enfrentará a decadência, primeiro, económica e, depois, política”. À demissão de Bismark, em 18 de março de 1890, por divergências com Guilherme II, seguiu-se uma reformulação do conceito estratégico alemão. À época, a nova política externa berlinense seguiu a doutrina dos intelectuais germânicos, segundo a qual “o Mar” era um fator de poder determinante da política mundial. Segundo esta conceção geopolítica, desenvolvida essencialmente por Friedrich Ratzel, “as poderosas nações continentais teriam, necessariamente, que tornar-se também potências navais, pelo que só assim seria possível a uma nação adquirir supremacia mundial”. Ratzel introduziu também, no pensamento político alemão, a noção de “espaço vital” (Lebensraum), segundo a qual todo o Estado está “necessariamente” em luta para defender o “seu espaço”. Um grande Estado seria concebido como um ser vivo que crescia, retirando espaço aos pequenos países, que não teriam possibilidade de viver. A geopolítica ratzeliana fornecia assim o suporte ideológico justificativo da expansão territorial do Império Alemão. Por seu lado, a Liga Pangermânica defendia que só se podiam expandir as nações que possuam uma “história com raízes culturais, de valor incontestável” (kultur), pelo que as “nações dominantes”, como a Alemanha, deveriam expandir-se à custa de pequenos povos “inaptos à vida e incapazes de formar um Estado”. Esta Liga, que teve uma grande aceitação nos meios académicos e militares da Alemanha, apoiava a “colonização” como ideia cultural da «missão civilizadora do II Reich». Assim, a partir da década de noventa do século XIX, sob impulso de Guilherme II, os governos da Alemanha passaram a apoiar planos de expansão em África, estimulados pelo crescimento económico do País e pela doutrina social-darwinista, pelo que o Kaiser se sentia compelido a intervir com mais determinação em questões não europeias, mesmo que para tal tivesse de entrar em rotura, ou mesmo em conflito, com a Grã-Bretanha. A “querela luso-britânica do Ultimato” e dívida externa portuguesa Entre 1898 e 1899, tiveram lugar os incidentes conhecidos por “crise de Fachoda, quando a França e a Grã-Bretanha decidiram construir linhas de caminho-de-ferro destinadas a ligar as respectivas colónias africanas, de Dakar (Senegal) a Djibouti (Costa Oriental de África) e do Cairo (Egito) à Cidade do Cabo (África do Sul). A pequena cidade de Fachoda, situada no entroncamento das duas linhas, converteu-se em palco da confrontação. Uma expedição militar francesa chegou a Fachoda antes da volumosa força expedicionária britânica, procedente do Egipto. Os franceses tiveram de se retirar, devido à sua inferioridade numérica. A resolução deste incidente e o aumento da influência alemã na zona levaram à assinatura da «Entente Cordiale» (1904): a França reconhecia o domínio britânico no Egipto em troca do direito de atuar livremente em Marrocos e o domínio anglo-egípcio sobre o Sudão[18]. A «Entente Cordiale» constituiu uma série de acordos entre Grã-Bretanha e a França (8 de abril de 1904). Além das preocupações imediatas de expansão colonial, o acordo marcou o fim de quase um milénio de conflitos intermitentes entre as duas nações, formalizando a coexistência pacífica que já existia desde o fim das guerras napoleónicas (1815). O acordo resolveu muitos problemas de longa data. A França reconhece o controlo britânico sobre o Egito, enquanto a Grã-Bretanha é recíproca a respeito da França em Marrocos. A França desistiu de seus direitos exclusivos de pesca nas margens de Terra Nova e em troca recebeu uma indenização e territórios na Gâmbia (Senegal) e na Nigéria. A Grã-Bretanha retirou reclamações relativas ao regime aduaneiro francês em Madagáscar. Em 20 de novembro de 1889, com vista a manter os portugueses afastados da expansão inglesa na Zambézia, o governo inglês também abriu um conflito em relação aos territórios africanos sob bandeira portuguesa, alegando que “os Macololos [povo da região no Alto Zambeze] foram atacados pelo Major Serpa Pinto, depois de o Cônsul Britânico lhe ter declarado que estavam sob a proteção da Inglaterra, de que o Major com uma força de 4.000 homens, 7 metralhadoras e 3 vapores se achava em Ruo [bacia hidrográfica na margem leste do Chire] e que tinha declarado oficialmente que era sua intenção tomar posse de toda esta região até ao lago Nyassa. Avisou, além disso, as estações inglesas de Blantyre [Malawi] de que terão de colocar-se sob a proteção de Portugal ou de sofrer as consequências que poderiam resultar de assim o não fazerem. (…). George G. Petre [Ministro plenipotenciário e extraordinário do Governo britânico em Lisboa]”. Um mês depois, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Henrique de Barros Gomes, justificava que “o Governo Português organizara uma expedição de carácter puramente técnico, sem recursos de pessoal para empreender uma guerra, da qual foi dado conhecimento ao Governo de S. M. B. e a ela se referiam, em tempo, todos os jornais, incluindo, os ingleses, sem que suscitasse o mínimo reparo o local onde ela devia operar; que ao bom êxito dessa expedição se opuseram as perturbações ocorridas no Chire e, mais tarde, os boatos espalhados e os manejos no intuito expresso de a contrariar, tendo a expedição portuguesa sido, durante a ausência do Major Serpa Pinto, atacada e que (este) não atacou.” Tais acontecimentos e os correspondentes desenvolvimentos diplomáticos culminaram no “Ultimato” inglês, de 11 de janeiro de 1890, cuja querela a Alemanha se disponibilizou para mediar, através do seu embaixador na Áustria, tendo dado instruções ao seu embaixador em Londres, para dar sinal ao Primeiro-ministro britânico acerca dos interesses germânicos em África. Em face da promessa de secretismo alemão, o governo inglês aceitou a proposta alemã, que o ministro português dos Negócios Estrangeiros também viu com agrado (ou ingenuidade?), em abril de 1891. Em junho, foi assinado um do Tratado Luso-britânico, com duras exigências a Portugal. Aqui, o fator determinante, que levou Berlim a interferir, foi a Revolta de 31 de janeiro de 1891, pois a instauração do regime republicano, em Portugal, com reflexos em Espanha, podia aliar ambos Estados à França. A pretexto da situação financeira do País, o embaixador alemão em Lisboa tentou sensibilizar outras potências para uma «demonstração naval» no Tejo. Portugal, em grave crise financeira, necessitava de desenvolver os territórios africanos. Em maio de 1898, o Governo negociava um empréstimo com Londres. A Alemanha, desejosa de consolidar a sua ideia de Mittelafrika, propôs à Inglaterra um empréstimo a Portugal, em comum, garantido pelos rendimentos das alfândegas coloniais. Pois, no caso de Portugal não pagar ou em caso de queda do Império, cada país assumiria as responsabilidades por «esfera de influência». Por seu lado, a Inglaterra pretendia garantir a neutralidade da Alemanha, em África, mas esta só deixaria de apoiar os Boer com a assinatura de um acordo de “divisão” da África Austral em «esferas de influência». A 30 de agosto de 1898, ingleses e alemães assinaram três documentos: convenção sobre o possível empréstimo a Portugal; convenção secreta para a hipótese de Portugal não poder manter as suas colónias africanas ao Sul do Equador e a ilha de Timor; e nota secreta sobre concessões nas «esferas de influência». Ambos os países se comprometiam a um empréstimo comum, dividindo os rendimentos das alfândegas de Angola, Moçambique e Timor. Mas os acordos secretos não alteravam nada aos ingleses, uma vez que, pelo Tratado de 1891, estes já detinham o direito à preferência do território a Sul do Zambeze. Portugal acabou por obter o auxílio financeiro da França, o que lhe permitiu recusar aquele “presente envenenado”. Numa declaração secreta Luso-Britânica, de 14 de outubro de 1899, Portugal comprometeu-se a não deixar passar armamento e munições para o Transval e a não declarar neutralidade em caso de guerra, entre este último e a Inglaterra, garantindo esta a segurança das colónias portuguesas. Em 1912, com Portugal fragilizado pela conjuntura pós-revolucionária da Primeira República, a Inglaterra pôs em causa a aliança, iniciando uma revisão formal do acordo secreto de 1898, com a Alemanha, retomando a ideia do empréstimo mútuo. Desta vez, as promessas e facilidades oferecidas pela Inglaterra procuravam desencorajar os alemães de prosseguirem o seu programa naval, para a partilha da Ásia. Na versão alemã, o preâmbulo da Convenção deveria prevenir e obviar as “complicações internacionais de uma possível crise financeira em Portugal, mantendo a sua integridade e independência e preservando os interesses das colónias alemães e inglesas contíguas às portuguesas.” Os trabalhos para a revisão decorreram em 1913, nunca tendo sido publicado um texto final, entre outros motivos, porque a França teve conhecimento das negociações. Seguiu-se a Grande Guerra, o que impediu a conclusão do “famigerado” acordo. Por esta época e a propósito do “plano estratégico alemão”, já em 1911, na sua obra “A Alemanha e a próxima Guerra”, o general Friedrich Von Bernhardi, adepto das ideias nacionalistas extremistas da Liga Pangermânica, referia-se Portugal e às colónias, nos seguintes termos: “(…). Um desastre financeiro ou político de Portugal poderia dar-nos ocasião de adquirir parte das colónias portuguesas. Podemos inclusive supor que existem, entre Inglaterra e Alemanha, certos acordos sobre a eventual divisão das ditas colónias, ainda que não tenha sido dada publicidade aos mesmos. Se realmente existem tais acordos e se a Inglaterra estará disposta a honrá-los, quando chegar a hora, o futuro o dirá. A Inglaterra poderia até encontrar meios de tornar o convénio ineficaz, e, a dizer a verdade, após troca de informações com a Alemanha, a respeito deste ponto, sabe-se que o governo inglês garantiu a Portugal, em convénio separado, a posse das suas colónias”. O fim do império colonial alemão em África Após o eclodir das declarações de guerra, na Europa, no verão de 1914, os alemães foram perdendo as suas colónias africanas. A Togolâdia rendeu-se aos ingleses, em 24 de agosto, após terem autodestruído a estação de rádio de Kamina. Nos Camarões, no início de 1916, o comandante da «schutztruppe» ordenou a retirada das unidades alemãs, bem como dos civis, para Rio Muni, na Guiné Espanhola (atual Guiné Equatorial). No Sudoeste Africano, o último comandante da «kaiserliche schutztruppe», rendeu-se perto de Knorab, a 9 de julho, e os prisioneiros alemães foram transportados para campos de concentração perto de Pretória e, posteriormente, transferidos para Pietermaritzburg, na região oriental, a 80 km de Durban. Na África Oriental Alemã, as operações tiveram mais desenvolvimentos. Desde o início de 1914, Paul von Lettow-Vorbeck comandava, ali, as forças alemãs. Quando a guerra eclodiu na Europa, este ignorou a ordem de neutralidade e aprontou-se para combater. Por isso, evitou a ocupação de Tanga, em novembro de 1914, repelindo os ingleses. O seu plano consistia em afrontar e capturar o maior número possível de tropas britânicas, mantendo a máxima pressão sobre as forças remanescentes, para forçar a Entente a desviar o efetivo do teatro de guerra na Europa. Para minorar as perdas de pessoal, Lettow-Vorbeck evitou confrontos com forças britânicas, desencadeando ações de guerrilha no Quénia e na Rodésia. Para o efeito, aproveitou tudo o que encontrava disponível, sendo disso exemplo paradigmático a utilização do pessoal e armamento, incluindo o material de artilharia, do cruzador alemão SMS Königsberg, afundado no delta do Rio Rufiji, em 11 de julho de1915. Como a possibilidade de reforçar e manter os efetivos, por parte da Grã-Bretanha, era real e decisiva, Lettow-Vorbeck fez uma incursão para sul e atravessou o rio Rovuma, em novembro seguinte, penetrando em Moçambique, até perto da costa, entre Angoche e Quelimane, onde desenvolveu atividade operacional, durante cerca de nove meses, com ataques a guarnições portuguesas para capturar pessoal e subsistências. Reentrou no território da África Oriental Alemã, em 28 de setembro de 1918, para rumar para sudoeste, em direção a Kasama, e atacar os ingleses na Rodésia do Norte, evitando a armadilha que os britânicos, entretanto, lhe haviam preparado na África Oriental Alemã. A 12 de novembro de 1918, um dia após a assinatura do Armistício de Compiègne, tomou Kasama, que os britânicos haviam evacuado, naquela que foi a “última vitória alemã” no conflito. Daí continuou para sul, em direção ao Katanga, tendo chegado às margens do rio Chambeshi, na manhã de 14 de novembro, onde o inimigo o informou de que “a Alemanha manifestara a rendição incondicional de todas as tropas que operavam na África Oriental”. Aceitou então as instruções dos britânicos para se dirigir com as suas forças para norte, até Abercorn (Mbala) para aí formalmente se render, o que ocorreu a 23 de novembro. Conclusão De uma forma geral, a colonização dos territórios africanos, visando o monopólio do comércio internacional, não foi um processo pacífico, confrontado mais com a resistência dos povos do interior, uma vez que os do litoral, ainda não totalmente saneados dos vícios do tráfico negreiro, estavam em transição para outras atividades comerciais. Nesta conformidade, a exploração colonialista alemã assumiu fórmulas violentas de relacionamento com diferentes comunidades africanas tentando exercer uma pretensa superioridade racial e cultural sobre as maiorias nativa materialmente inferiores. A assinatura de Tratados de protetorado deveria tranquilizar o processo de ocupação, comprovando a extensão dos domínios. Porém, este formalismo provocou frequentes conflitos entre os colonizadores (na África oriental, entre alemães e ingleses, e, na África ocidental, entre franceses e ingleses), pela corrida às povoações (para “chegarem primeiro” e “venderem proteção e exclusividade de comércio”), os quais, nunca redundando em conflitos militares, foram sempre resolvidos, na Europa, pela via político-diplomática. Major-general Adelino de Matos Coelho, Revista Militar Agosto/Setembro 2014

A incómoda estátua de Cecil Rhodes

La statue du colon Cecil Rhodes devant l'université du Cap provoque la colère des étudiants sud-africains. La polémique monte, d'autant plus que Robert Mugabe pourrait s'en mêler. Depuis plusieurs semaines, une foule d'étudiants sud-africains manifeste devant l'université du Cap. L'objet de leur colère ? Une statue de Cecil Rhodes, colon britannique venu poser ses valises en Afrique du Sud dans les années 1880 pour fonder la compagnie De Beers, et donner son nom à la Rhodésie. Depuis 1934, sa statue trône devant l'université du Cap. Le monument a récemment provoqué la colère des étudiants, et agite à nouveau la sensible question de l'héritage historique dans le pays. Depuis quelques jours, la statue est en effet régulièrement ciblée : certains l'ont fait disparaître sous des sacs en plastique, alors que d'autres ont opté pour la recouvrir d'excréments, rapporte The Guardian. Robert Mugabe s'en mêlera-t-il ? La bataille pour déboulonner ou détruire la statue cache en réalité un autre conflit : les étudiants accusent l'université de rechigner à promouvoir la diversité. Si l'établissement s'en défend, certains chiffres racontent une autre histoire. Selon une tribune publiée dans le New York Times par un auteur sud-africain, 83% des postes de direction y sont occupés par des blancs. L'affaire, qui fait grand bruit au Cap, a pris une autre ampleur cette semaine, lorsque des proches de Robert Mugabe s'en sont mêlés. Ces derniers ont assuré que le président du Zimbabwe, en solidarité avec le mouvement étudiant sud-africain, pourrait déterrer la tombe du colon, enterré sur les mont Matopo, rapporte The Telegraph. Il y a pourtant trois ans, Robert Mugabe avait bloqué toute exhumation du tombeau, haut lieu de pèlerinage, en raison de son caractère historique. Même argument historique en Afrique du Sud, au grand damne des étudiants. Ces derniers dénoncent un hommage fait à l'héritage colonialiste et à la domination blanche. "Quel héritage préserve-t-on", s'interroge Ramabina Mahapa, leader du mouvement "Rhodes Must Fall" - littéralement "Rhodes doit tomber". Signe du malaise provoqué, la campagne menée par les étudiants fait grand bruit, et s'invite peu à peu dans d'autres villes sud-africaines. Lire l'article sur Jeuneafrique.com : Polémique | Afrique du sud : la statue Cecil Rhodes ou l'indéboulonnable problème de l'héritage colonial | Jeuneafrique.com - le premier site d'information et d'actualité sur l'Afrique Follow us: @jeune_afrique on Twitter | jeuneafrique1 on Facebook

25.3.15

Egipto: Travesti condecorado pelo Presidente

Une femme égyptienne de 64 ans s’est déguisée en homme pendant 43 ans dans le but de nourrir sa famille après la mort de son mari. Elle a reçu la médaille de "Mère travailleuse exemplaire" des mains du chef de l'État, Abdel Fattah al-Sissi. Sissa Abu Daooh est une veuve égyptienne de 64 ans. À l'âge de 20 ans, alors qu’elle était enceinte de sa fille, son mari décède. Démunie, elle doit trouver un moyen de nourrir son enfant. Mais dans une Égypte ultraconservatrice et misogyne, elle ne voit qu'un moyen pour trouver du travail : cacher sa féminité. Pendant 40 ans, Sissa se travestit en homme, enchaînant les métiers manuels sans jamais être démasquée par ses collègues ou ses patrons. Drapée sous une longue galabeya (longue tunique traditionnelle) noire, elle déambule dans les rues de Louxor pour gagner sa vie. "J’avais coupé mes cheveux. J'ai commencé à porter la galabeya, un turban et des chaussures d'homme pour chercher du travail. C'était dur de trouver un emploi pour une femme", dit-elle au site Al Arabiya.com. Les travaux pénibles plutôt que la mendicité Confectionneur de briques et cireur de chaussures feront partie de ses nombreux métiers. "J’ai privilégié les travaux pénibles à la mendicité pour nourrir ma famille", explique-t-elle. Un parcours exceptionnel qui n’a pas laissé les autorités égyptiennes indifférentes : le président Abdel Fatah al-Sissi a tenu a la décorer en personne. Il lui a en effet remis le dimanche 22 mars 2015 la médaille de "Mère travailleuse exemplaire", au lendemain de la Fête des mères égyptiennes. Lors de la cérémonie, Sissa Abu Daooh a également reçu 50 000 livres égyptiennes (6 000 euros). Mère courage Malgré son nouveau statut, la vielle paysanne n’a pas l’intention d’achever sa vie de dur labeur. Elle continue à ce rendre tous les jours à la gare de Louxor habillée en homme afin de subvenir aux besoins de sa fille, ses petits-enfants et de son gendre invalide. Lire l'article sur Jeuneafrique.com : Égypte | Égypte : une femme se travestit en homme pendant 43 ans pour nourrir ses enfants | Jeuneafrique.com - le premier site d'information et d'actualité sur l'Afrique Follow us: @jeune_afrique on Twitter | jeuneafrique1 on Facebook

22.3.15

Ponte de Maputo para a Catembe

Aquando da guerra do Transval, em finais do século XIX, Portugal estava disposto a conceder facilidades à Alemanha na margem direita da Baía do Espírito Santo, na Catembe, frente a Lourenço Marques, a actual Maputo, dizendo-se que ali havia sem dúvida espaço para outro porto de grandes dimensões. Estava-se no ano de 1894 e a concessão seria entregue a um empresário de Hamburgo, o tenente Franz Ferdinand Eiffe, de origem judaica, conforme escreve Álvaro Henriques do Vale num livro agora saído em Lisboa: Do Mapa Cor-de-Rosa à Europa do Estado Novo. A Baía do Espírito Santo era considerada a saída natural do Transval, visto como uma nova América que se estava a formar na África Austral. E por isso interessava tanto ao Presidente Kruger, a Portugal, à Inglaterra e à Alemanha. O projecto da concessão da Catembe a Franz Ferdinand Eiffe, que representava o expansionismo germânico, fez com que o Governo britânico interrompesse as negociações que estavam a decorrer em Londres sobre a dívida pública portuguesa. Já em 2006 Gisela Guevara, no livro As Relações entre Portugal e a Alemanha em Torno de África, dissera que grandes bancos internacionais queriam como garantia de empréstimos a Lisboa a concessão do porto de Lourenço Marques e do caminho-de-ferro que daí saía para Pretória, desde 1892. A concessão da Catembe a Eiffe, que estava ligado à Siemens, ao Deutsche Bak e à Berliner Handelsgesellshaft, foi assinada em 1894, mas felizmente nunca ratificada, pois que se o projecto se tivesse concretizado talvez se tivesse perdido a unidade de Moçambique, tal como hoje o conhecemos, do Rovuma à Ponta de Ouro. A Alemanha e as repúblicas boers eram aliados, existindo um projecto para a instalação de emigrantes alemães no Transval, de modo a dar um empurrão à sua economia. Tal como havia planos para levar boers para os planaltos da Huíla e do Bié, em Angola. Ou seja, na década de 1890 o colonialismo português ainda estava muito pouco consolidado no Sul de Moçambique, de modo que todas as jogadas eram possíveis, fossem elas dos alemães ou do britânico Cecil Rhodes, político ambicioso que sonhava com um Governo mundial, sob a égide de Londres. Os estados do Sul de Moçambique, como Gaza e Maputo, tinham-se conseguido manter independentes até ao último quartel do século XIX, apesar de todas as ambições das chancelarias europeias. E por isso, ao fim e ao cabo, a administração colonial efectiva não foi coisa que durasse muito mais de 70 anos. Bem podiam Portugal, a Alemanha e a Inglaterra andar a digladiar-se por territórios que não eram deles, que ao fim e ao cabo os moçambicanos haveriam de se unir, para formar uma Pátria nova, a partir das múltiplas realidades do passado. Só resta agora esperar que o que foi conseguido em 1975 venha a ser consolidado ao longo do século XXI, no qual estamos agora a assistir à construção de uma ponte entre Maputo e a Catembe (foto)
. Jorge Heitor

21.3.15

O'Brien, um cardeal que pecou

By John L. Allen Jr. Associate editor, Crux | March 20, 2015 A Scottish cardinal who stepped down as an archbishop in 2013 amid revelations of sexual misconduct now has renounced his rights and privileges as a cardinal, although he will retain the title, the Vatican announced Friday. Though not quite unprecedented, the specter of a Catholic prelate all but losing his privileges as a member of the College of Cardinals is exceedingly rare, with the last such case coming in 1927. Cardinal Keith O’Brien, 77, originally quit his post as archbishop in February 2013 following accusations published in Scotland’s The Observer that he had engaged in sexual relations with four men, three priests at the time and one former priest, dating back to the 1980s. One of the men, who was not identified in the newspaper reports, alleged that the degree of control a superior has over subordinate priests made it hard for him to refuse O’Brien’s demands. “He [the bishop] has immense power over you. He can move you, freeze you out, bring you into the fold … he controls every aspect of your life,” the priest was quoted as saying. According to the report, one of those men quit the priesthood when O’Brien was made a bishop in 1985, fearing that O’Brien would be able to exercise power over his career. One of the four men also claimed to have made a report to the papal ambassador in the United Kingdom, but to no effect. After initially contesting the charges, O’Brien eventually acknowledged that at times his sexual behavior had “fallen beneath the standards expected of [him]” and announced his resignation as well as his withdrawal from the conclave in March 2013 that elected Pope Francis. O’Brien said at the time that he would be undertaking a period of prayer and reflection, and has not taken part in public activity since. Friday’s Vatican statement indicated that O’Brien is now making his withdrawal complete, in effect stepping down as a cardinal.

20.3.15

Grécia: Corrupção oficial e crime organizado

Greece is a regional financial center for the Balkans, as well as a bridge between Europe and the Middle East. Official corruption, the presence of organized crime, and a large informal economy make the country vulnerable to money laundering and terrorist financing. Greek law enforcement proceedings show that Greece is vulnerable to narcotics trafficking, trafficking in persons and illegal immigration, prostitution, smuggling of cigarettes and other contraband, serious fraud or theft, illicit gaming activities, and large scale tax evasion. Evidence suggests financial crimes have increased in recent years and criminal organizations, some with links to terrorist groups, are increasingly trying to use the Greek banking system to launder illicit proceeds. Criminally-derived proceeds historically are most commonly invested in real estate, the lottery, and the stock market. Criminal organizations from southeastern Europe, the Balkans, Georgia, and Russia are responsible for a large percentage of the crime that generates illicit funds. The widespread use of cash facilitates a gray economy as well as tax evasion, although the government is trying to crack down on both trends. Due to the large informal economy, it is difficult to determine the value of goods smuggled into the country, including whether any of the smuggled goods are funded by narcotic or other illicit proceeds. There is increasing evidence that domestic terrorist groups are involved with drug trafficking. Greece has three free trade zones (FTZs), located at the Heraklion, Piraeus, and Thessaloniki port areas. Goods of foreign origin may be brought into the FTZs without payment of customs duties or other taxes and remain free of all duties and taxes if subsequently transshipped or re-exported. Similarly, documents pertaining to the receipt, storage, or transfer of goods within the FTZs are free from stamp taxes. The FTZs also may be used for repacking, sorting, and re-labeling operations. Assembly and manufacture of goods are carried out on a small scale in the Thessaloniki Free Zone. These FTZs may pose vulnerabilities for trade-based and other money laundering operations. Relatório da Secretaria de Estado norte-americana sobre Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros

Afganistão: Maior produtor mundial de ópio

The Islamic Republic of Afghanistan is not a regional or offshore financial center. Terrorist and insurgent financing, money laundering, cash smuggling, abuse of informal value transfer systems, and other illicit activities designed to finance organized criminal activity continue to pose serious threats to the security and development of Afghanistan. Afghanistan remains a major narcotics trafficking and producing country, and is the world’s largest opium producer and exporter. The narcotics trade, corruption, and contract fraud are major sources of illicit revenue and laundered funds. Corruption permeates all levels of Afghan government and society. The growth in Afghanistan’s banking sector has slowed considerably in recent years; and traditional payment systems, particularly hawala networks, remain significant in their reach and scale. Less than five percent of the Afghan population uses banks, depending instead on the traditional hawala system, which provides a range of financial and non-financial business services in local, regional, and international markets. Approximately 90 percent of financial transactions run through the hawala system, including foreign exchange transactions, funds transfers, trade and microfinance, as well as some deposit-taking activities. Official corruption and weaknesses in the banking sector incentivize the use of informal mechanisms and exacerbate the difficulty of developing a transparent formal financial sector in Afghanistan. The unlicensed and unregulated hawaladars in major drug areas such as Helmand likely account for a substantial portion of the illicit proceeds being moved in the financial system. Afghan business consortiums that control both hawaladars and banks allow criminal elements within these consortiums to manipulate domestic and international financial networks to send, receive, and launder illicitly-derived monies or funds intended for criminal, insurgent, or terrorism activities. The rapid depreciation of the Iranian rial in October 2012 led to increased demand for U.S. dollars in Iran and a reported increase in cash smuggling from Afghanistan to Iran. Relatório norte-americano sobre Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros

Líbia: O terrorismo propaga-se à Tunísia

Selon le secrétaire d'État tunisien chargé des affaires sécuritaires, les deux auteurs de l'attentat du musée du Bardo à Tunis, qui a coûté la vie à 21 personnes dont vingt touristes, se sont formés au maniement des armes en Libye. Les terroristes du carnage au musée du Bardo ont été formés en Libye. Selon Rafik Chelly, qui s'est exprimé jeudi soir sur la chaîne privée AlHiwar Ettounsi, il s'agit de deux éléments extrémistes salafistes takfiris qui ont quitté clandestinement le pays en décembre dernier pour la Libye où ils ont pu se former aux armes. "Nous n'avons pas les détails mais il y a des camps d'entraînement pour les Tunisiens (en Libye) à Sabratha, à Benghazi et à Derna, donc (ils ont pu se former) dans l'un de ces camps", a-t-il ajouté. >> Lire aussi : Attaque du musée du Bardo : comment un guide tunisien a sauvé trente touristes Les deux assaillants avaient été identifiés par les autorités : il s'agit de Yassine Abidi et de Hatem Khachnaoui. Le secrétaire d'État tunisien a précisé que le premier avait été arrêté avant son départ en Libye, sans autres précisions. "Les deux hommes étaient des éléments suspects faisant partie de ce qu'on appelle les cellules dormantes, formées d'éléments présents dans les villes, connus, dont nous savons qu'ils sont takfiris, dont nous savons qu'ils peuvent mener des opérations mais il faut rassembler les indices pour pouvoir mener une arrestation", a fait valoir le responsable. (Avec AFP) Lire l'article sur Jeuneafrique.com : Terrorisme | Tunisie : les terroristes du musée du Bardo ont été entraînés en Libye | Jeuneafrique.com - le premier site d'information et d'actualité sur l'Afrique Follow us: @jeune_afrique on Twitter | jeuneafrique1 on Facebook

Bissau: Corrupção e impunidade

Guinea-Bissau continues to experience political disruptions due to the transit of narcotics and the flow of money related to the drug trade. The cohesion and effectiveness of the state itself is very poor; corruption and impunity are major problems and the judiciary has demonstrated its lack of integrity on a number of occasions. On April 8, 2010, the United States Department of the Treasury designated two Guinea-Bissau-based individuals – former Bissau-Guinean Navy Chief of Staff Jose Americo Bubo Na Tchuto and Air Force Chief of Staff Ibraima Papa Camara – as drug kingpins. On April 2, 2013, the U.S. Drug Enforcement Administration arrested Na Tchuto. On May 18, 2012, the UNSC adopted resolution 2048 imposing a travel ban on five Bissau-Guinean military officers in response to their seizure of power from the civilian government on April 12, 2012. On May 31, 2012, the EU followed with a travel ban and freezes on the assets of the military junta members. One of the poorest countries in the world, the value of the illicit narcotics trade in Guinea-Bissau is very large compared to the size of the Bissau-Guinean economy. Drug proceeds, often in U.S. dollars, circulate in Guinea-Bissau, albeit outside the formal financial system. Traffickers from Latin America and collaborators from the region continue to take advantage of the extreme poverty, unemployment, political instability, lack of effective customs and law enforcement, corruption, and general insecurity to make the country a major transit point for cocaine destined for consumer markets, mainly in Europe. A multitude of small offshore islands, upon or near which drug shipments may be dropped, and complicit officials and military officers able to sidestep weak and under-resourced enforcement efforts with impunity contribute to the problem. Transition President Nhamadjo has declared the problem a top priority for his administration, although no resources have been devoted to this effort, nor is there the capacity to take steps toward enforcement. The formal financial sector in Guinea-Bissau is undeveloped, poorly supervised, and dwarfed by the size of the underground economy. For additional information focusing on terrorist financing, please refer to the Department of State’s Country Reports on Terrorism, which can be found at: http://www.state.gov/j/ct/rls/crt/ Relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre lavagem de dinheiro e crimes financeiros. Se bem que só tenha saído agora, é óbvio que o relatório foi essencialmente elaborado há quatro ou cinco meses, antes de o actual Governo ter tomado posse. Só nos resta esperar que no fim deste ano o panorama já possa ser um bocado diferente.

18.3.15

Líbia: Um grande erro britânico

Arriving in Benghazi by C-130 military transport plane in May 2011 as the UK special envoy’s stabilisation adviser, I could never have imagined the dark future that lay ahead. We were led to believe by political emigres in the UK that rebuilding Libya would be a relatively simple operation: Muammar Gaddafi was finished, Libya’s army was useless and its tribes were broken. A new state was to be built on fresh and firm foundations. How mistaken we were. Just four years later, Libya is witnessing an explosion in violence, led by al-Qaida and Islamic State (Isis): the gruesome murder of Egyptian Christians, devastating suicide bombings, the kidnapping of western oil workers and the discovery of countless headless soldiers and civil-society activists in Benghazi. Back in 2011, while everyone trumpeted democracy, human rights and transparent institutions, competing Libyan political alliances differed over the means. The popular, politically liberal – though still socially conservative – majority, represented by the National Forces Alliance, promoted reform. The much less popular, but better organised, Islamists and their allies preferred continuous revolution. Unhappy with just a share in the state, the Islamists wanted to own it entirely – and now, following three consecutive losses at the ballot box, they are the ones responsible for leading Libya towards annihilation. In retrospect, little thought was spared in London for our common values or interests when we “exited stage left” following Gaddafi’s demise in 2011. Without a long-term strategy for Libya and clear support for those who shared our values and interests (both security and commercial), we all inherited the worst of both worlds. An alarming terror threat is now metastasising beneath the “soft underbelly” of Europe. Libya’s economy – critical for the provision of jobs for the young and a barrier of prosperity against illegal migration to Europe – is at increasing risk of total collapse. Amid the fighting on the ground, the cloud of social media “designed to influence”, and the rebadging into Isis of long-established black-flag wavers who took part in the original ousting of Gaddafi, the political challenge is clear. Poignantly, western advisers with experience of other conflict zones noted in private in 2011 that, were these extremists only a few degrees further to the east on the map – in Afghanistan for example – we would have targeted them, as opposed to coordinating with them. Despite the remark by Philip Hammond, the British foreign secretary, that “there is no authority in Libya to engage with”, the Libyan parliament remains resolute in tribally secure Tobruk. The army and police, with whom we share security and commercial interests, are (albeit only just) containing the extremists in Benghazi. And the administration, backed by the Muslim Brotherhood, occupying Tripoli – with whom we have nothing in common – has been called out on its covert relationships with extremists. The bottom line is: we can’t do business with the militias occupying Tripoli Libya is not that complicated. The relationships between, and agendas of, the various and competing tribes and Islamist groupings are now well-mapped. However, what is not clear is the bureaucracy surrounding the western policy-making process. Having now returned to the commercial sector following service in Libya, I know what the bottom line is: we can’t do business with the militias occupying Tripoli. And, following the assassination of so many old friends and acquaintances from those early days and now, with the recent killing in militia-held Tripoli of Intisar al-Hasiri, another leading female civil-society activist, it is clear that only Libyans can solve their problems. However, the UK government’s fence-sitting is not only undermining the democratically elected parliament’s efforts to deal with the situation, but also endangers the UK’s long-term interests across the rest of the region. The Libyans deserve more, and are the only ones capable of dealing with Isis – or would be if only they were empowered to do so. Without immediate and concerted intervention in support of the democratic authorities – excluding “boots on the ground”, but including the deployment of diplomatic missions to sit alongside parliament, the provision of advisers and intelligence to support the police and army’s efforts to combat Isis, and the unambiguous recognition of parliament’s supreme authority over Libya’s central bank and sovereign wealth fund – Libya risks a permanent “failed state” status. Britain’s prime minister has a duty to urgently review the UK’s equivocal position on Libya and avoid the damaging assertion, to which civil servants cling tight, that “there is no military solution to Libya, only political”. For anyone who has read Clausewitz, military means are, of course, political. And the Islamists, including Isis, are giving us a masterclass in them. Joseph Walker-Cousins

Mapa cor-de-rosa: Portugal ao serviço da Alemanha

A Alemanha esteve por trás do Mapa Cor-de-Rosa Em 1873, Portugal apresentava-se em Angola e Moçambique, como chave da diplomacia alemã, de uma Alemanha potência emergente, que se unificara há pouco e que queria grandes negócios para os seus banqueiros, comerciantes e armadores. Quem assim fala da colocação do Governo português ao serviço da expensão ultramarina germânica é Álvaro Henriques do Vale, num livro agora publicado pela Chiado Editora: "Do Mapa Cor-de-Rosa à Europa do Estado Novo". D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha, o construtor do Palácio da Pena, só falava em alemão com os filhos; e a diplomacia de Berlim resolveu aproveitar o facto de a corte portuguesa de então ser dominado por um espírito e cultura alemães. O país de Bismarck queria subtrair a Península Ibérica à alçada britânica e transformá-la num mercado para os produtos alemães, bem como numa ponte para Marrocos e terras mais a sul. Guilherme II, que subiu ao poder em 1888, sonhou colocar gente sua nas Canárias, em Cabo Verde e em Fernando Pó, na actual Guiné Equatorial, de modo a contrabalançar o domínio britânico sobre os mares. "O Mapa Cor-de-Rosa é talvez o principal pormenor de toda uma política de Berlim, agendada e prevista para o século que se avizinhava", diz-nos Álvaro Henriques do Vale, formado em Ciências da Informação e da Comunicação, na Universidade Católica Portuguesa. Portugal e a Espanha foram vistos pelos homens do Kaiser e de Bismarck como pontes para a Alemanha se expandir para um sonhado Ultramar, constituindo uma alternativa ao Reino Unido. A pátria que se unificara em redor da velha Prússia queria mais, muito mais, não se conformando em ser apenas uma potência europeia; e por isso entrou em abordagens com Portugal para que este traísse o antiquíssimo tratado luso-britânico. Políticos como Vicente Barbosa du Bocage e Barros Gomes apostaram na Alemanha, colocaram-se sob a sua protecção, afastando-se da Grã-Bretanha, a mais velha aliada de Lisboa. "África era o continente à mão, virgem, cheio de matérias-primas para abastecer o Vale do Ruhr, o coração industrial da nova Prússia", continua a escrever o autor deste livro, que dia 25 de Março é apresentado na livraria Desassosego, em Lisboa, pelo Prof. Ernesto José Rodrigues e pelo escritor Fernando Dacosta. E foi nesse contexto que Barros Gomes, ministro dos Negócios Estrangeiros, apresentou ao Parlamento o plano do Mapa Cor-de-Rosa, para unir territorialmente Angola e Moçambique. Alguns governantes portugueses pensaram que os novos amigos alemães poderiam cobrir a dívida pública desta velha nação anquilosada, que outrora fora alguém, no contexto internacional. Mas enganaram-se; e surgiu o ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890, que tanto nos envergonhou. O convénio luso-alemão de 1886 foi parar ao caixote do lixo da História, mas a verdade é que Berlim teve planos para se instalar na Catembe, frente a Lourenço Marques (hoje Maputo), e na Baía dos Tigres, no sul de Angola. A Alemanha não chegou a concretizar a sua ambição de ficar com as terras entre a Baía dos Tigres e a foz do rio Cunene, mas entretanto a França conseguiu arrebatar a Portugal a zona de Casamansa, no Sul do Senegal, entre a Gâmbia e a actual Guiné-Bissau. Eram tempos em que diferentes países europeus se digladiavam para ficar com pequenos pedaços da África, como se ela não tivesse dono, não pertencesse aos africanos. É por tudo isso e por muito mais que merece a pena encetar a leitura das 511 páginas deste interessante livro sobre o período decorrido de 1871 a 1939, 68 anos de geopolítica, pela pena de um esforçado jornalista e investigador. Jorge Heitor 18 de Março de 2015

17.3.15

Da Lili da Parede à guerra na Guiné-Bissau

"Recordo-me da menina mais espampanante, na altura areia de mais para qualquer camioneta, a Lili da Parede, uma louraça bem bronzeada, que andava um ou dois anos mais adiantada (creio que frequentava 0 6º, quando nós andávamos no 4º ou 5º)e que hoje dá pelo nome de Lili Caneças". Quem assim escreve é o embaixador Francisco Manuel Guimarães Henriques da Silva (foto), no livro "Guerra na Bolanha", hoje lançado pela editora Âncora, no seu programa sobre o fim do império colonial português. O diplomata nasceu em 17 de Dezembro de 1944, em Lisboa. E Maria Alice Custódio de Carvalho Monteiro, a Lili da Parede, em 4 de Abril desse mesmo ano, na Guarda. "Recordo-me das lições do falecido professor Marcello Caetano. O mestre subia à tribuna, ladeado por dois assistentes, Diogo Freitas do Amaral e Miguel Galvão Teles. Os 300 e tal alunos levantavam-se". Estas são mais algumas linhas das memórias do embaixador Francisco Henriques da Silva, que nos fala dos anos da sua formação, da ida para a Guiné como alferes miliciano e do ingresso na carreira diplomática, que o levaria aos Estados Unidos, à França, ao Canadá, a Bissau, à Costa do Marfim, à Índia, ao México e à Hungria. Manuel Barão da Cunha, coordenador do Programa Fim do Império, escreveu uma nota prévia ao livro de 302 páginas hoje lançado e Mário Beja Santos redigiu o prefácio, no qual chama a atenção para as dificuldades que se poderiam sentir no regresso a casa, depois de dois anos de comissão de serviço no Ultramar. Numa linguagem excepcionalmente fluente, ao alcance de qualquer um, Francisco Henriques da Silva conta-nos o seu nascimento na Avenida Rovisco Paes, junto ao Instituto Superior Técnico, a breve passagem pelo Bairro Azul, a ida para o Restelo, as sessões de cinema no São Jorge e outras salas, o nível da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, do Teatro Experimental de Cascais e do Teatro Estúdio de Lisboa, de Luzia Maria Martins e Helena Félix; e fala-nos de tantas, tantas outras coisas, particularmente queridas a quem hoje anda na casa dos 67/70 anos. Vitorino Nemésio, António Lopes Ribeiro, João Villaret e Pedro Homem de Mello não poderiam deixar de ser evocados, quando se está a contar o como era Portugal na década de 1960, quando ele passou por Mafra, Castelo Branco, Tancos e Amadora, antes de ter viajado para Bissau no navio "Uíge". No Depósito de Adidos, em Brá, Francisco Henriques da Silva teve a oportunidade de ouvir logo a seguir à chegada o então governador e comandante-chefe das tropas destacadas na Guiné, António de Spínola, "de monóculo, pingalim e luvas, acompanhado pelo seu habitual séquito". Naquela altura, conta o autor do livro, António Sebastião Ribeiro de Spínola "encarnava, ou julgava encarnar, tudo: os Lusíadas, a bandeira verde-rubra, Afonso e Mouzinho de Albuquerque combinados, Aljubarrota e os conjurados de 1640...". Era, realmente, um grande sonhador, esse oficial general que durante meia dúzia de anos tudo fez para chegar à chefia do Estado, lugar no qual só se aguentaria por alguns meses. Pobre Napoleão tresloucado, que em 11 de Março de 1975 ainda tentou reconquistar Belém. De todas estas coisas e de muitas, muitas mais, nos fala o embaixador Francisco Henriques da Silva, que inclusive relata conversas com o sogro, António Rosa Casaco, inspector da PIDE/DGS, que foi correio diplomático entre Salazar e Franco, durante a Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial. "Não me posso, nem me devo queixar da vida, à parte os pequenos percalços do quotidiano, que, obviamente, também os houve", conclui o autor de "Guerra na Bolanha", pessoa que em Setembro de 2012 já nos dera as "Crónicas dos (Desfeitos) da Guiné", nas Edições Almedina. JH 17 de Março de 2015

15.3.15

Líbia: Até os islamitas combatem entre si

Des combats ont opposé samedi des jihadistes du groupe Etat islamique (EI) et des miliciens antigouvernementaux à Syrte, dans le centre de la Libye, pays plongé dans le chaos, selon des responsables. "Des combats acharnés se déroulent entre des combattants de Fajr Libya et ceux de la branche libyenne de l'EI", a indiqué à l'AFP le général Mohammed Al-Ajtal, l'un des commandants de cette coalition de milices, en déplorant un mort dans ses rangs. Un responsable local des services de sécurité a ensuite déclaré à l'AFP que les affrontements avaient pris fin à la nuit tombée, sans donner plus de détails ni fournir de bilan. Il s'agit des premiers combats à Syrte entre l'EI et Fajr Libya, coalition de milices notamment islamistes, depuis que la branche libyenne de l'EI a pris en février le contrôle de bâtiments gouvernementaux et de l'université dans cette située à quelque 450 km à l'est de Tripoli. Après l'entrée en février des jihadistes de l'EI à Syrte, Fajr Libya avait envoyé des renforts pour défendre la ville. Depuis la fin de la révolte qui a renversé en 2011 le régime de Mouammar Kadhafi, la Libye est morcelée et sous la coupe de milices rivales formées surtout d'ex-rebelles. Deux autorités s'y disputent le pouvoir: un gouvernement et un Parlement, soutenus par une armée et reconnus internationalement, siégeant dans l'est du pays, et un gouvernement et un Parlement parallèles installés à Tripoli par Fajr Libya, qui s'est emparée en août de la capitale et d'une grande partie de l'ouest libyen. Pour ajouter à la confusion, les deux autorités rivales, outre les combats qui les opposent, tentent de contrer l'influence de l'EI, qui contrôle de vastes territoires en Irak et en Syrie et est désormais présent en Libye et en Egypte voisine. Lors d'une conférence de presse à Tripoli, le Premier ministre du gouvernement parallèle a indiqué samedi qu'il ne laisserait pas "ce cancer (l'EI, ndlr) se propager". Omar el Hassi a aussi accusé le groupe jihadiste de travailler avec d'anciens cadres du régime de Kadhafi. La ville de Noufliyeh, située à 120 km à l'est de Syrte, est considérée comme un fief de l'EI et ce groupe jihadiste est également présent à Derna, une ville située à 850 km à l'est de Syrte et contrôlée par des groupes armés radicaux. Ce groupe extrémiste sunnite, responsable d'atrocités -viols, rapts, décapitations-, a revendiqué ses premières attaques en Libye en janvier avec un assaut spectaculaire contre un hôtel à Tripoli (neuf morts dont un Américain et un Français), puis en février la décapitation de 21 chrétiens, la plupart égyptiens. Les forces pro-gouvernementales menées par le général Khalifa Haftar ont par ailleurs effectué samedi des raids aériens dans la région de Zouara, à 120 km à l'ouest de Tripoli. Nos avions y ont frappé des dépôts d'armes et des positions de miliciens, a indiqué à l'AFP un responsable militaire, disant agir en représailles à un raid de Fajr Libya sur l'aéroport de Zentan, à 160 km au sud-ouest de Tripoli. Les milices de Zentan, anti-islamistes et chassées de la capitale par Fajr Libya à l'été, sont loyales aux forces de Haftar et au gouvernement reconnu. Lire l'article sur Jeuneafrique.com : Libye | Libye : combats entre jihadistes de l'État islamique et miliciens à Syrte | Jeuneafrique.com - le premier site d'information et d'actualité sur l'Afrique Follow us: @jeune_afrique on Twitter | jeuneafrique1 on Facebook

Recurso à força contra o Estado Islâmico

The Vatican says force may be necessary to stop attacks on Christians and other Middle East minorities by Islamic State (IS) if no political solution is found. Archbishop Silvano Tomasi, the Vatican's top diplomat at the UN in Geneva, said jihadists were committing "genocide" and must be stopped. The Vatican traditionally opposes military intervention in the region. However, Pope Francis decried the beheading in February of 21 Egyptian Coptic Christians by IS in Libya. The militants have targeted minority religious groups in the parts of Syria and Iraq under their control. Thousands more people have been forced to flee their homes. In an interview with US Catholic website Crux, Archbishop Tomasi said: "What's needed is a co-ordinated and well-thought-out coalition to do everything possible to achieve a political settlement without violence. "But if that's not possible, then the use of force will be necessary." He added: "We have to stop this kind of genocide. Otherwise we'll be crying out in the future about why we didn't so something, why we allowed such a terrible tragedy to happen." Archbishop Silvano Tomasi said the rights of all minorities had to be protected Christians were the main target of IS attacks, the archbishop said, but all minorities were human beings whose rights had to be protected. "Christians, Yazidis, Shias, Sunnis, Alawites, all are human beings whose rights deserve to be protected," he said. Any coalition, he said, must include Muslim states from the Middle East and be guided by the UN. Crux said the archbishop's endorsement of military action was "unusually blunt". In February, human rights organisations warned that IS was trying to eradicate Iraqi minority groups from large areas of the country. In a report, they detailed summary executions, forced conversions, rapes and other abuses suffered by minorities. BBC

14.3.15

A nova aliança Boko Haram-Estado Islâmico

O Estado Islâmico, proclamado em 29 de Junho de 2014 por Abu Bakr al-Bagdadi, aceitou a aliança proposta pelo Boko Haram, que actua no Nordeste da Nigéria, afectando as fronteiras com o Níger, o Chade e os Camarões. Da Europa Ocidental, da África do Norte, da Ásia Central e de outras regiões seguem entretanto jihadistas para a Síria e o Iraque. Na Líbia já existe um ramo do Estado Islâmico; e este também tem aliados na Argélia, no Egipto, no Afeganistão e no Paquistão. O desafio islamita surgiu depois do surgimento e malogro ou repressão das tão controversas primaveras árabes. E agora aí as temos, as muitas faces da jihad mundial, que vai do Mali à Somália e das costas do Mediterrâneo ao Mar Arábico, sem esquecer o Emirato do Cáucaso e o Movimento Islâmico do Uzbequistão. A crise síria e o desenvolvimento de um novo terrorismo islamita, na Nigéria, na Síria e no Iraque, levaram a atentados na França, na Bélgica, no Reino Unido, na Dinamarca e na Austrália. O Islão, o velho Islão, com a sua conquista fulgurante, nos séculos VII e VIII, de Sevilha a Samarcanda, não deixa de nos surpreender, desde que chegou ao Xinjiang, ao Decão, à Malásia e à Indonésia. Se 31,5 por dento da Humanidade é cristã, 23,2 por cento é muçulmana, sendo estas as duas grandes religiões dos últimos 2.000 anos, havendo sucedido ao politeísmo, ao animismo, à redacção dos Veda, texto de referência do hinduísmo, ao primeiro templo judaico de Jerusalém, ao xintoísmo, ao taoismo, a Buda e a Confúcio. O Cristianismo e o Islão constituem o fundo religioso de mais de metade da Humanidade; e é por isso que os cristãos da Europa e das Américas não podem ignorar países muçulmanos tão populosos como a Turquia, o Egipto, o Paquistão, o Bangladesh e a Indonésia. Importa bem verificar como é que esses países se posicionam perante o jihadismo. Kairouan, Cairo, Medina, Meca, Karbala, Bagdad e Qom, entre outros, são santuários da alma muçulmana, a não ignorar por quem tente entender, minimamente que seja, o fenómeno religioso, que ainda ninguém conseguiu erradicar da face da Terra. Temos pois que estar muito atentos ao que se passa em Marrocos, na Argélia, na Tunísia, na Líbia, no Egipto, na Síria, no Iraque e por aí fora, para um dia não acordarmos com fundamentalistas islâmicos em Malta, em Lampedusa, na Sicília, na Sardenha ou na Córsega. O mundo muçulmano, maioritariamente sunita, é uma grande realidade a ter devidamente em conta por quem vive na Europa, pois que de Tripoli a Nápoles ou de Benghazi ao Pireu o caminho é curto, podendo ser feito em escassas horas. Na Turquia, esse cavalo de Tróia que de há muito se tenta introduzir na União Europeia,99,8 por cento da população é muçulmana, havendo também comunidades muito significativas em Chipre, Albânia, Kosovo, Bósnia-Herzegovina e Macedónia. Estejamos pois atentos à nebulosa jihadista, em todos os seus aspectos, chamem-se eles Signatários pelo Sangue, Al-Qaeda no Magreb Islâmico, Soldados do Califado, Boko Haram, Estado Islâmico ou Ansar Bait al-Maqdis. JH 14 de Março de 2015

8.3.15

Líbia: A hora do general Khalifa Haftar

The impact of jihadists claiming allegiance to IS has increased and General Haftar seems set on a military solution. The escalation of violence by 'Islamic State' in Libya over the past month has contributed fresh horror to an already bloody conflict. However, the prospect of IS succeeding in establishing a new branch of its 'caliphate' in North Africa is far from certain. The Geneva talks process led by the United Nations in Morocco is in tatters, against a background of trademark spectacular murders of captives by IS. Yet further talks could take place. More moderate voices are still looking for compromise and at least one new proposal, whose details are yet unknown, may come before the warring parties in the next fortnight. Influential political figures in Tripoli, Misurata and Cyrenaica who all fear the destructive influence of their more belligerent Islamist allies, might welcome it, we hear. The alternative is for Khalifa Belqasim Haftar and his Egyptian backers to go for a pure military victory over their enemies in the Islamist-Misurata alliance of Fajr Libya (Libya Dawn) and IS (aka Islamic State in Iraq and Syria/Levant: ISIS/ISIL). On 2 March, Parliament in Tobruk confirmed Haftar, who supported the late Colonel Moammar el Gadaffi until 1987, as Army Commander and he was promoted Lieutenant General (AC Vol 55 No 11, Enter the General). Meanwhile, the fighting is seriously affecting foreign currency reserves, currently the fractured state's only means of supporting the population. They could soon run out and precipitate a humanitarian crisis. The UN Special Representative for Libya, Spanish diplomat Bernardino León, had hoped to convene a fourth round of negotiations in Morocco during the last week of February between representatives from the Tobruk-based House of Representatives, which backs Haftar, and its Islamist-dominated rival, the Tripoli-based rump General National Congress. But following a spate of IS suicide bombings against HoR-related targets in the eastern town of El Qubbah, HoR members voted not to attend the talks. The IS attacks were a response to Egyptian air force strikes – the country's first foreign military action since the 1973 war with Israel – which were themselves retaliation for IS's beheading of 21 Egyptian Coptic captives in mid-February. Splits of convenience 'The talks are quite stuck at the moment,' European Council on Foreign Relations analyst Mattia Toaldo told Africa Confidential, noting that, 'The HoR have no incentive to strike any deal because they have all they need.' The HoR's current advantages include international legitimacy and military superiority. Even the emergence of IS, with all its dangers, can be interpreted as a potential strategic advantage for the Tobruk government of Abdullah el Thani and Haftar's Libyan National Army because it reflects a split within the ranks of Fajr Libya. Sooner or later the militias from Misurata, which are now targeting HoR's control of oil export terminals in the oil crescent of the Sirte Basin, will have to turn and fight IS. Businessmen in Misurata presently backing the militia are desperate to find a way out of a conflict which they look like losing and which is ruining them commercially. Banking independence Whether the social and economic fabric of the country can hold together while the various elements of the conflict are militarily resolved is unclear. March could be the month when the Central Bank of Libya (CBL)'s access to ready cash will run out. Libya will, of course, be far from bankrupt. Its sovereign wealth funds may hold at least US$60 billion and it may yet have the same amount again in illiquid foreign reserves. Yet the shortage of cash has been worsening since the beginning of the year and all parts of the country are experiencing increasingly severe shortages of electricity, fuel and staple foods, all of which are imported and paid for in hard currency. In a vain attempt to impose independent control over the nation's dwindling assets, the CBL is insisting on its institutional and operational independence. While that may have prevented the rival governments from using the control of financial assets as a weapon, it funds both of them. The bank has institutionalised the payment of vast sums to militia leaders, which funds wages for their fighters and an equally lucrative business in the cross-border smuggling of subsidised commodities. According to a recent local television interview with the Tripoli-based Oil Minister, Mashallah Zwei, the smuggling of fuel out of the country costs his government about 400 million Libyan dinars ($300 mn.) per month (AC Vol 55 No 24, A tale of two cities). Many young people are loyal to the militias because they pay them wages and there are no viable economic alternatives. In this respect, Libya's political problems are a product of its economic dysfunction. Oil workers flee The other 'independently' functioning state institution, the National Oil Corporation, has also found it increasingly hard to operate. Production has fallen to a little above the level necessary to supply those domestic refineries that are still working. In mid-February, following a number of attacks on its facilities, NOC warned that 'the recurrence of such incidents is causing the migration of technical manpower away from oil fields'; staff are leaving over fears for their safety. 'If these incidents continue, NOC will have to stop all operations in all oil fields', it said in a separate statement. This is almost unthinkable and unprecedented. Indeed, it has since brought two terminals back into production, indicating that the trends are not entirely negative. Other vital parts of the infrastructure are also under severe pressure. As Africa Confidential went to press reports were coming in that the Bahi and Mabruk oilfields, about 300 miles east of Tripoli, had fallen under the control of forces loyal to Fajr Libya. Islamist groups attacked these same fields in mid-February. In terms of output, they are less important than fields in the eastern part of the Sirte basin. So, although these are among the largest of Libya's oilfields, no strategic change in the balance of power is evident. The two fields have not been operating since their export terminal at Sidra was put out of action last December. Libya Fajr, however, seems to be pursuing a campaign of occupying as many oilfields as they can, especially those, like Bahi and Mabruk, which are close to the front line with Haftar's forces. In mid-February, the state electricity utility, the General Electric Company of Libya, said that failures in the national power grid had caused it to collapse into four isolated networks. Combined with shortages of both diesel oil and natural gas, GECOL estimated that it had lost two-fifths of installed generating capacity. Tripoli residents complain of power cuts lasting more than six hours a day. Interruptions to the water supply are also common: 80% of the population depends on the Great Man-Made River, a pipeline network which brings water from prehistoric aquifers under the Sahara to the coast. Once at the surface, water in the eastern branch from Sarir and Kufra runs by gravity to Ajdabiya on the coast. However, the western branch, which has already suffered some vandalism, requires pumping to cross the Jebel Nafousa to Tripoli and is therefore dependent on electric power. There is international division over how to deal with a conflict which threatens the security of neighbouring states, the Sahel, southern Europe and beyond. An alliance of Egypt and the United Arab Emirates with backing from Saudi Arabia, has long supported Haftar's Operation Karama (Dignity). This has generally been interpreted as part of a wider campaign based on the desire of Egyptian President Abdel Fatah el Sisi and Abu Dhabi's Crown Prince, Sheikh Mohamed bin Zayed al Nahayan, to destroy the Muslim Brotherhood as a political force (AC Vol 54 No 17, High stakes in the Sinai fight). Egypt may support Haftar but it will not hesitate to drop him if it feels that he is not adequately protecting its western border against jihadist infiltration or military action. So far, there is no other plan for Egypt to stabilise that border, so it will persist with Haftar, though the UN Security Council opposes Egyptian Foreign Minister Sameh Shoukry's proposal to lift the arms embargo against the Tobruk government and to impose a naval blockade on ports controlled by Fajr Libya. The murder of its citizens by IS and the belief that an IS caliphate in Libya would directly threaten Egypt, which is already fighting an Islamist insurgency in Sinai, means Cairo 'feels no restraint any more because it has been declared a matter of national security', says Toaldo (AC Vol 55 No 17). Russia also supports lifting the arms embargo. Prime Minister El Thani went to Moscow to discuss counter-terrorism on 27 February, stopping in Cairo en route to offer his condolences for the murder of the Copts. Within Europe, France also supports the Egypt-UAE axis, although its Sahel deployments mean it is overstretched, while Italy, the nearest mainland European country to Libya and its former colonial power, has also said it would support a military response. The United States and Britain remain determined not to take sides in the conflict and they back the UN. This policy may be partly dictated by their domestic political cycles. In neither country is there much appetite for involvement in more Middle East conflicts in the lead-up to elections in November and May respectively. This view also appears motivated by a deep reluctance to line up behind Haftar and Egypt, whose rhetoric on counter-terrorism reflects a broader anti-Islamist political agenda. At a joint press conference on 19 February in Algiers with his counterpart, Ramtane Lamamra, British Foreign Secretary Philip Hammond, argued, 'We don't believe that military action can solve the problem in Libya,' adding 'the Algerian position and the British position are identical... we believe in an inclusive political solution in Libya'. A recent paper by the International Crisis Group argued that 'Libya needs a negotiated political bargain and an international effort that channels efforts toward that goal'. Its recommendations included the notion that the UN should attempt to 'de-emphasise' the legitimacy of the Tobruk government, 'be more forthright in confronting regional actors who contribute to the conflict by providing arms or other military or political support', should keep the arms embargo in place and 'protect the neutrality and independence' of the CBL and NOC. In every case, though, the trends are running strongly in the opposite direction. Copyright © Africa Confidential 2015

2.3.15

Crise no Sahel: 2011-2015

Grave concerns persist for some 20 million people in the Sahel. Recurrent conflict, erratic weather patterns, epidemics and other shocks continue to weaken the resilience of households across a region still suffering chronic levels of food insecurity and malnutrition. An estimated 20.4 million people remain food insecure at the start of 2015. At least 2.6 million people have already crossed the crisis threshold, 70 percent of whom are in Niger, Nigeria, Mali and Chad where insecurity and poverty compound food insecurity. Epidemics continue to demand urgent attention in 2015. Besides cholera, meningitis, Lassa and yellow fever, more recently, Ebola has been posing a serious threat to the Sahel region and has already impacted Mali, Nigeria, and Mali directly. Beyond the chronic threats of food insecurity, malnutrition and epidemics, violent conflict in and around the Sahel region has led to a surge in population displacement. The region begins 2015 with some 2.8 million people displaced; over a million more than in early 2014. With escalating conflict in northeast Nigeria, an estimated one million people have been internally displaced. Some 150,000 Nigerian refugees have fled to neighbouring Niger, Chad and Cameroon. The volatile security situation in northern Mali continues to have a devastating impact on civilians, hampering the return of refugees, affecting markets and preventing the full restoration of basic services. Some 133,000 Malian refugees remain in Mauritania, Niger and Burkina Faso and more than 80,000 Malians remain internally displaced. As in Nigeria, high levels of insecurity in northern Mali also greatly impact the ability of humanitarians to access those in need. (Sahel: A call for humanitarian aid, 12 Feb 2015) --- É assim o pós-Kadhafi no Sara-Sahel. Para quem há três anos ainda não tinha compreendido os efeitos desastrosos do desmoronar do sistema líbio.

Isabel dos Santos quer fusão BPI-BCP

Isabel dos Santos formalizou ontem à noite, em carta enviada ao presidente executivo do CaixaBank e a Fernando Ulrich e Nuno Amado uma proposta de fusão entre o BPI e o BCP, apurou o Económico. Na carta, a empresária angolana defende a criação do maior banco com sede em Portugal, e com posições em Angola, Moçambique e Polónia, e uma gestão portuguesa e independente dos accionistas. O novo banco passaria a ser controlado por Angola, através da Sonangol, accionista de referência do BCP6.24%, e da própria Isabel dos Santos. Além do CaixaBank, claro. A Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank sobre o BPI7.43% a 1,329 euros por acção ainda não tinha merecido qualquer resposta de Isabel dos Santos, a segunda maior accionista com 19% do capital. Mas o silêncio era ensurdecedor, leia-se, a empresária angolana não está disponível para aceitar a OPA nas condições presentes. Outra das condições para o sucesso da oferta é o fim da limitação dos direitos de voto no BPI7.43%, hoje nos 20%, quando o CaixaBank tem 44,1% do capital. O Económico

A persistência da memória africana

Desde o Bornu até ao Borno Uma curiosa viagem histórica de muitos séculos pode ajudar-nos a compreender o que liga o antigo império de Bornu ao actual estado nigeriano de Borno, sede do grupo fundamentalista islâmico Boko Haram. Jorge Heitor A História, quando nos é contada por mestres fascinantes, como o burkinabe Joseph Ki-Zerbo, mostra-nos bem que muitas das coisas que estão a acontecer hoje em dia têm algo a ver com outras que se verificaram há 500 ou mais anos. E a África, ao contrário do que poderiam imaginar alguns, ainda no século XIX, teve ao longo dos tempos muitos reinos e impérios, não tendo sentido a necessidade de esperar os primeiros contactos com os europeus para se "civilizar". Por volta de 1600, por exemplo, a potência dominante nas imediações do Lago Chade era o Bornu, governado nessa altura por Idriss Alaoma, que se informou sobre as técnicas militares do Egipto e comandou tropas que recorriam ao uso tanto de cavalos como de camelos. Sabia-se então, sabia quem por lá vivia, que havia um reino de Bornu e um reino de Karem, se bem que quem estivesse na Europa julgasse muitas vezes que a sul do Sara as populações eram como que bandos de selvagens. Suposições obscurantistas que só com muita dificuldade viriam a ser abandonadas. Puritano islamista, Idriss Alaoma é um dos antepassados espirituais dos homens que actualmente vivem no estado nigeriano de Borno; e mandou construir em Meca, na Arábia Saudita, um albergue ou estalagem para os peregrinos. Naqueles tempos, no início do século XVII, a população de etnia e língua kanuri dominava a bacia do lago Chade, tal como hoje em dia os Kanuris constituem a parte principal dos quadros do movimento fundamentalista Boko Haram, que tanto actua em territórios nigerianos como nigerinos, chadianos e camaroneses. No século XVIII o Bornu ainda exercia uma grande influência cultural e religiosa no interior da África Negra, a sul do Trópico de Câncer, tendo guias espirituais que eram muito versados no Alcorão, o livro que diz que "não há outra divindade senão Deus e Maomé é o seu profeta". Sultões e cidadelas foram-se sucedendo nos territórios que hoje constituem o Níger, a Nigéria, o Chade e os Camarões, até que a colonização francesa e a britânica tentou em vão apagar da face da Terra a recordação desses tempos, como se isso alguma vez fosse possível. Não era! O Kanem, o Bornu e a Fezânia (sul da actual Líbia) são realidade bem palpáveis, que existiram há 600, 700, 800 anos; e que nenhum político do século XX seria capaz de apagar da memória dos povos. A África pode ter sido adormecida, anestesiada, durante o período colonial e os primeiros anos das independências que se seguiram à descolonização, mas ela não morreu, na sua verdade intrínseca, naquilo que verdadeiramente é. E ela está lá, na consciência dos povos, quer se queira quer não, quer se goste ou não goste. Haussas, Fulas, Kanuris, Saras e outros são povos africanos, de que evidentemente a maioria dos ocidentais nunca ouviu falar, mas que têm tanto direito de existir e tanto orgulho de o serem como os Bascos, os Catalães, os Corsos, os Sérvios ou os Croatas. É bom não esquecê-lo, para que não haja equívocos. O fundo cultural negro-africano persistirá sempre nos novos países da África Central, Oriental e Austral, por mais influências externas que estes tenham sofrido, nos últimos 125 anos. Querer ignorá-lo não será bom para ninguém.